terça-feira, 7 de junho de 2016

Marrocos - Cacém - Tanger - Tetouan

Há cerca de 25 anos, numa ocasião em que andava de vadiagem pelos parques de campismo do norte na companhia de um casal amigo, passou-se um episódio que raramente recordo, mas que andou na minha mente durante as 2 semanas que andei por Marrocos.
Estava-mos perto do fim do dia, e como habitualmente era hora de escolher um parque de campismo para a pernoita. Como estava-mos em Amarante, e existia um parque camarário, para lá nos dirigimos.
Fizemos o procedimento de registo no parque, montámos a tenda, e antes de tratar da janta, fomos aos balneários!...
Para resumir uma história que daria várias linhas, direi apenas que havia merda no tecto! e quando digo que havia merda no tecto, estou a referir-me literalmente a excrementos humanos colados no tecto, além de tantos outros sítios. 
Como era ao fim do dia, demos o benefício da dúvida, e esperamos pela limpeza, só que de manhã, quando novamente me dirigi ao balneário, tudo estava na mesma!
A recepção só abria depois das 9:30, por isso, desmontámos tudo e ficámos à espera que abrisse para que nos fossem devolvidos os documentos que na altura ficavam retidos durante a estadia, e fugimos dali!
Nunca mais voltei a Amarante!
Foi o único local de onde saí sem vontade de voltar imediatamente, até este ano,...
Não é que não tivesse gostado de Marrocos, e também não encontrei merda no tecto de nenhum wc, mas na verdade, chamar wc à maioria das "instalações sanitárias" dos "restaurantes" que frequentei, é beneficiá-las  de um estatuto que seguramente não têm categoria para ostentar...
Passei por locais lindíssimos, vi paisagens de perder a cabeça, mas na verdade, para conseguir ver alguma coisa em Marrocos, é preciso pagar,... e pagar,... e novamente pagar, e ainda por cima, temos que levar com o assédio permanente dos marroquinos a oferecer-se para nos levar a todo o lado, para nos estacionar as motas, para nos mostrar onde comer, onde comprar, mesmo que, não exista da nossa parte qualquer intenção de comprar, de comer ou de visitar!
Aos poucos irei contar, dia a dia como foi a nossa passagem por Marrocos, mas para já, fica este pensamento:
Marrocos foi para mim saldo zero, ou seja, o saldo entre o que vi e adorei e o que não gostei de todo, não dá saldo positivo, mas também não dá saldo negativo, por isso, considero que a experiência teve saldo ZERO
Gostei? sim, gostei do país;
Voltarei? talvez, mas para já não me apetece!
É demasiado difícil e eu não tenho vocação para o sacrifício, e além disso, conheço felizmente tantos destinos de onde volto com uma imensa vontade de regressar, e isso não aconteceu ao deixar Marrocos.

Marrocos fica arquivado naquela pequena lista onde antes figurava apenas Amarante - a de "Talvez um dia volte"
;-)


Mas atenção!, o país é lindo, e vale a pena visitar, só que é preciso ir munido de uma dose mesmo muito grande de calma, ir preparado para passar  alguma fome, e sobretudo, levar muita, mas mesmo muita pachorra para o assédio permanente dos marroquinos ;-)

Mas vamos ao que interessa!


A primeira etapa:

Saímos cedo.
Ao contrário do que é habitual, não arrancámos logo no 1º dia de férias, porque não tinha havido tempo para preparativos, e o sábado teve que ser gasto na preparação de trajecto, reserva de alguns alojamentos no booking, bagagem,… etc.
Na verdade, o destino era um pouco diferente do que estamos habituados, e por isso optamos por algum planeamento, até porque ainda por cima íamos sem GPS!
Tinham-nos dito que o mapa de Marrocos da Michelin era indispensável, e por isso levamos um, mas na verdade nunca o abrimos. Em vez disso, comprei a versão premium da aplicação B-on-road para telemóvel, e foi com isso que nos desenrascámos.
Ainda tentamos usar o Google maps, que agora tem a excelente função de mapas offline, mas infelizmente a zona de Marrocos não é disponibilizada.

Domingo, saímos com chuva, e fizemos quase sem história a viagem até ao Ferry em Tarifa.
Digo quase, porque porque sempre tem que haver alguma para contar, e em plena auto-estrada vejo passar a grande velocidade qualquer coisa clara, redonda, que rebolou até ao separador central, e que parecia vir da maxi do marido, mas como não conseguimos perceber o que era, nem tão pouco tivemos a certeza de que fosse dele, seguimos viagem, e só numa "paragem técnica" já em Tarifa é que ele olhou para a maxi e viu que faltava o embelezador da ponteira do escape.



Chegámos à hora prevista ao Porto, levantámos os bilhetes que préviamente tinhamos reservado online, (junto com os bilhetes entregaram-nos um papel branco para preencher), entrámos com as motas no ferry, assistimos ao trabalho de as prender, e subimos à ampla sala de passageiros.




O mar estava agitado, e as funcionárias da limpeza estavam atentas preparadas com sacos para o enjoo que entregavam assim que notavam alguma mudança de cor na cara de algum passageiro!...

Eu já tinha lido que as formalidades da entrada em Marrocos começavam logo no barco, e assim que entrámos, encontrámos logo o "gabinete". Preenchemos o papel branco, entregámos ao funcionário, juntamente com  os passaportes, e ele ficou com o papel, colocou-lhe diversos carimbos, carimbou os passaportes e atribuiu a cada um de nós um numero de entrada no reino de Marrocos, numero esse que iríamos ter que preencher muitas vezes ao longo da estadia.




Chegados a Tanger e libertadas as motas, seguimos para o portão de saída do porto onde nos esperavam os funcionários da alfandega e a polícia.
Deram-nos mais um papel verde - importação temporária de veículos, preenchemo-lo, com a ajuda dos polícias, que depois pegaram neles juntamente com os passaportes, e nos mandaram subir ao 1º andar, onde outros polícias nos fizeram algumas perguntas. Quando já íamos a regressar ao andar térreo, fomos abordados pelo primeiro diligente marroquino, que nos indicou onde poderíamos trocar dinheiro, apesar de passarmos bem à frente do local, e de ser impossível não ver, e apesar também de entre o local onde estávamos e o portão do porto existirem caixas de multibanco de cuja existência até já estávamos informados!
Mas os marroquinos são muito diligentes, e adoram "ajudar" estrangeiros, e claro, assim que recebemos os nossos primeiros dirhams,... alguns tiveram logo que  mudar de mãos!... não sei bem porquê, mas depressa aprendi que apenas é assim ;-)

Enfim,... foi o começo...

Tínhamos estudado o trajecto desde o porto até ao IBIS, e parecia fácil, mas quando chegámos parecia hora de ponta apesar de ser Domingo, e foi uma entrada abrupta na realidade de Tanger.

Levava montado o telemóvel como GPS para nos guiar, e ainda dentro do porto, um dos polícias apontou para ele e abanou a cabeça. Julguei que fosse apenas para ter atenção a ele enquanto ali estávamos nas formalidades, e por isso desmontei-o, mas antes de sair o portão voltei a colocá-lo para nos guiar até ao hotel.

O trânsito estava caótico, e várias motas pequenas, daquelas que têm pedais auxiliares, passavam por nós e grande velocidade, serpenteando entre os carros, e um dos rapazes que seguia numa delas, prestou demasiada atenção ao telemóvel, pelo que o marido avisou logo: "cuidado com o telefone", e quase ao mesmo tempo, um senhor que seguia num jeep ao meu lado buzinou e fez-me sinais com um ar muito alarmado, apontando para o telefone.

Aí fez-se luz, e imediatamente o guardei!

Na verdade, já tinha lido que em Marrocos existem duas cidades menos seguras, e uma delas era Tanger. A outra é Casablanca.

Como nos tinha sugerido o amigo Jorge Bernardo, um experiente viajante que já perdeu a conta ao numero de vezes que visitou Marrocos, ficámos alojados no Ibis.

No dia seguinte, seguimos para Tetouan.

Assim que entrámos na cidade, ao contornar uma rotunda para decidir que rumo tomar para estacionar e dar uma volta a pé, o meu marido foi logo abordado por mais um "diligente marroquino", que perguntou se procurávamos parking, e nos mandou seguir atrás dele.
Decidimos aceitar a sugestão, e seguimo-lo, e ele correu à nossa frente guiando-nos até á garagem onde tem comissão. Perguntei o preço, ele perguntou-nos quanto tempo iríamos ficar, dissemos que apenas dispúnhamos de algumas horas, e o dono da garagem que acompanhou a conversa informou-nos de que o preço seriam 20 dirhams por cada  mota, e acrescentou que não aceitava euros.
E,... esqueci-me de uma das "regras" que tinha lido nos blogues e páginas que li sobre Marrocos, e não perguntei ao Hassan quanto é que ele cobrava pela visita!

Tetouan fica encravado entre montanhas, e a vista é lindíssima!

Entrámos na medina.


Espreitámos o mercado do peixe.

Na rua, vende-se de tudo.

Nota-se que Tetouan está preparada para o turismo, com indicações em vários idiomas, explicando o significado e a história de cada local.


Por entre ruas e ruelas, cada uma mais estreita que a anterior, vamos encontrando lojas de toda a espécie, e artesãos a trabalhar os mais diversos materiais. 
Este, estava a entalhar madeira. Um trabalho lindíssimo feito ali à vista de todos com mestria por um jovem.














Uma padaria:


O pão marroquino é excelente! nas 2 semanas que por lá andámos, o pão e as azeitonas foram a base da nossa alimentação.










 
E eis que o Hassan nos leva para dentro de uma loja...
Eu ainda protesto, digo que não queremos nem podemos comprar nada porque como ele bem sabia, estávamos de mota e com as motas carregadas, mas como sempre fazem, ele disse que seria só para ver...
Era um edifício bonito, e realmente valia a pena visitar, mas claro que o objectivo era vender...



Começou com os produtos á base de argan! são cremes, óleos corporais, perfumes, óleos alimentares, tudo com base no argan, mas declinamos tudo com a desculpa de termos as  motas cheias e ainda estarmos no início das férias.
Claro que entretanto o Hassan tinha desaparecido...



 
Entrámos num verdadeiro labirinto, passámos pela secção das loiças,...

 
E finalmente, na zona dos tapetes mandaram-nos sentar,  e começaram a tentar vender-nos um tapete pequeno, e já vinha um marroquino com a bandeja do chá, quando o que nos tentava vender algo percebeu finalmente que não ía conseguir, e mandou recolher a bandeja, devolvendo-nos rápidamente ao Hassan, muito pouco satisfeito!


 
Aproximava-se a hora do almoço, e o Hassan levou-nos para dentro de uma casa, que afinal era um local onde se faziam casamentos, e que também funcionava como restaurante, apesar de os únicos clientes que lá vimos termos sido nós.


 
A ementa! tem tudo menos o preço...


Escolhemos o que queríamos, perguntei o preço, 70 dirhams por pessoa,... achei caro, mas a senhora que nos recebeu, com a ajuda do Hassan que entretanto já nos tinha perguntado se era a nossa primeira vez em Marrocos,... quanto custavam as nossas motas, quanto filhos tinhamos,... etc,... não aceitou negociar, e lá teve que ser...
















 
Entrámos numa fábrica de curtumes, de momento quase desactivada.
























Voltámos ao restaurante para almoçar, e o Hassan tinha trocado o pedido do marido, que foi confrontado com muitos legumes que ele não gosta, e nenhuma batata frita que era o que tinha pedido.





Para mim uma tagine de legumes e carne, que estava deliciosa.

E saímos da medina, voltando à zona nova da cidade.


 
 
O palácio do Rei.
Em cada cidade há um, e sempre muito bem guardado, independentemente de o rei lá estar ou não. Fiquei com a sensação de que a ideia é nunca se saber exactamente onde está o rei em cada momento.






Fazia-se tarde e ainda queríamos visitar Chefcouen, pelo que o Hassan levou-nos de volta ás motas. Pagámos o parque directamente ao dono, e pagámos ao Hassan o que ele pediu.
Já nem me lembro quanto, mas lembro-me de ter achado caro, mas na verdade não tinhamos perguntado antes, e a visita foi muito boa, pelo que pagámos e saímos de Teouan em direcção a Chefchouen, a medina azul.